SMCC reúne a classe médica em seu II Fórum Covid-19 e esclarece questões importantes para o enfrentamento da pandemia em Campinas

5 jun, 2020 | Notícias

A 2ª Edição do Fórum da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC) com o balanço semanal da situação atual da pandemia Covid-19 em Campinas superou o número de participantes, com centenas de conectados entre acessos pela ferramenta Zoom e também pelo Canal da SMCC no Youtube nesta quinta-feira, dia 04 de junho.

“Estamos vendo que os leitos são poucos. Como entidade não gostaríamos de interferir nas decisões de governo, mas como pessoa e médica geriatra não consigo não me posicionar. Sei como está difícil para a população. Também não gostaria de ver nossos soldados indo pra casa contaminados. “A pior situação de um cidadão é não ter um leito para ser assistido. Mas a pior situação para um médico é ter que escolher alguém entre tantos para ocupá-lo” Com essa opinião e citação final de uma médica ouvinte, a presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas, Dra. Fátima Bastos, resumiu a opinião de todos os médicos de Campinas convidados do II Fórum, pedindo cautela sobre a liberação do isolamento social e a dura realidade que os médicos e profissionais de saúde estão vivendo.

CLIQUE AQUI PARA ASSISTIR A ÍNTEGRA DO II FÓRUM DA SMCC (Canal Youtube); 

Sobre o II Fórum da SMCC

A exemplo da 1ª edição (28/5) a SMCC conseguiu reunir mais uma vez um time formado por médicos especialistas e gestores dos principais serviços de saúde da cidade e região (veja a relação de convidados ao final deste texto), abrangendo tanto o serviço público quanto o privado, para debater os pontos mais importantes da estratégia de enfrentamento ao coronavírus.

Os especialistas se revezaram em rodadas de perguntas sobre a situação dos leitos em hospitais, uso e cuidados com EPI’s (equipamentos de proteção individual), protocolos de tratamento e medicamentos profiláticos e nos casos leves de Covid-19 além de estratégias de testagem.

O Diretor de Comunicação e Marketing da SMCC, Dr. Marcelo Camargo Amade, moderou o debate e chamou a atenção para a responsabilidade da entidade e dos médicos ao abrir a rodada de perguntas: “Aqui temos representantes de diversas instituições mas agora todos devemos nos colocar como Médicos em primeiro lugar, pois nós vamos falar de uma situação que está atacando a nossa cidade e que precisamos nos unir, como profissionais, para buscar a melhor saída para esta situação.” E lembrou o papel histórico da entidade: “O objetivo sempre foi trazer informação e conhecimento. A SMCC foi criada em 1925, logo depois de uma epidemia, a de Gripe Espanhola, em que Campinas se destacou perante todas as outras cidades como um dos melhores resultados no enfrentamento desta epidemia. Os fundadores desta entidade há 94 anos atrás estavam neste mesmo desafio que estamos hoje, isso nos remete a uma responsabilidade e nos permite ter a credibilidade para unir a classe médica.”

Situação dos Leitos e Medidas de Isolamento Social

Entre os temas em destaque durante o debate esteve a situação dos leitos e a possibilidade do afrouxamento ao isolamento social e a necessidade ou não da ampliação da testagem.

A maioria dos convidados concordou que o pico dos casos ainda está por vir, a curva de casos está em ascensão e a importância de manter o isolamento para garantir a saúde da população.

O Coordenador do Departamento de Infectologia da SMCC, Dr. Rodrigo Angerami, que também atua em outras esferas em âmbito estadual e nacional, acredita que ter iniciado as medidas de isolamento precocemente em algumas regiões do país torna difícil a manutenção agora. “Estamos preocupação com pacientes de outras cidades sendo atendidos aqui (em Campinas). Com a taxa de ocupação como está, mesmo que possamos ocupar leitos particulares transmite uma falsa sensação de tranquilidade”.

Representando a Faculdade São Leopoldo Mandic, o epidemiologista, Dr. André Ribas de Freitas ponderou: “É um assunto extremamente complexo, a questão das empresas que estão sofrendo problemas como consequência disso tem que ser considerada, mas o mais importante para se definir a mudança de situação é a tendência do número de casos com dois indicadores: diminuir a proporção de pacientes sintomáticos em que se confirma Covid e diminuir o número de casos novos sendo internados. A gente está vendo que não é o que está acontecendo em Campinas e região.”

Dr. Luis Gonzaga Massari, Diretor da Unimed Campinas, também compartilhou da opinião que houve um fechamento muito cedo. Mas em vista de tudo o que foi exposto, agora não é hora de flexibilizar. Agora o leite já derramou e a gente vai ter que segurar senão o estrangulamento do sistema de saúde vai acontecer de forma inevitável. Precisa haver um grau de conscientização maior da população”.

O Presidente da Rede Mário Gatti, Dr Marcos Pimenta ponderou. “Manter todo mundo isolado por muito tempo não é possível, aliás já não está acontecendo. Existem parâmetros que o município irá monitorar e, se houver estrangulamento significativo nos serviços de saúde, vai ser necessário retornar as medidas mais restritivas. Teremos um novo normal, mas passa pela necessidade das pessoas terem seu próprio sustento, senão não será possível”.

Todos os representantes de hospitais confirmaram que as taxas de ocupação estão próximas ao limite (no SUS, o limite já foi atingido). Apesar disso, tanto Rede Mário Gatti como a PUCC e outras unidades na região irão liberar novos leitos a partir da semana que vem. 

O Diretor Clínico do Hospital Celso Pierro, Dr. Carlos Mattos foi um deles. “Estamos analisando quantos leitos podemos liberar para ajudar. Estamos chegando no limite. Para o SUS já cedemos o que podíamos e a ocupação é de 100%”. Mas ressaltou que ter 100% de ocupação da UTI no SUS é uma situação que sempre houve.

As mesmas afirmações quanto a taxa de ocupação estar em 100% também foram feitas pelo Dr. Bruno Araújo que representou a Casa de Saúde de campinas e o Hospital Vera Cruz. “A Casa de Saúde está na quarta pandemia dela. Cedemos oito leitos para SUS e estão 100%, ocupados, mas giramos metade o que fez de quinta para cá ser uma semana sem muitas mudanças. Aliás, quero dar parabéns A SMCC pelo protagonismo e pela iniciativa. A entidade nasceu como uma resposta a epidemia”.

O próprio Dr. Marcos Pimenta comentou que a Rede tem uma situação mais complexa. “Liberamos apenas uma vaga de UTI hoje a tarde. Os 15 leitos abertos já são usados desde terça. Estão lotados! Teremos mais 20 leitos na Mário Gatti nesta semana que vai entrar. O Hospital de campanha tem 36 leitos, sendo 28 ocupados e entregaremos mais 18 leitos semana que vem. A questão ainda não são as enfermarias, porque os paciente ainda estão na UTI. São cerca de 70 pacientes. Quando eles tiverem alta terão que usar enfermaria e me preocupa a falta de relaxante muscular para os pacientes para permitir que fiquem entubados”.

Os médicos Dr Luis Gustavo Cardoso, coordenador do CCIH do HC UNICAMP e do Hospital Centro Médico de Campinas, Dr. Gustavo Faidiga, Diretor Técnico do Hospital Galileo de Valinhos, Dr. Leandro Chiarelli, Diretor Técnico da Santa Casa de Campinas e Dra. Adriana Feltrin que coordena o CCIH do Hospital Madre Theodora e outros também confirmaram leitos destinados a Covid-19 em sua quase capacidade máxima.

Testagem para todos?

A ampliação da testagem em profissionais de saúde gerou opiniões divididas.

Para Dra. Valéria Correia de Almeida, infectologista e Coordenadora de Vigilância e Agravos da DEVISA, o tema precisa começar a ser pensado. Ela fala que a testagem foi ampliada podendo fazer na população geral. “Testar em massa seria o ideal, mas não é factível em termos de custos. Agora a situação no Estado de São Paulo ampliou muito a questão da testagem, passando a testar em casos que não estavam nos critérios anteriores. Os critérios agora ampliaram bastante. Agora o PCR (diagnóstico da fase aguda) será feito em todos profissionais de saúde, de limpeza urbana, de transporte, força de segurança e profissionais de serviços como sepultamento, por exemplo, se apresentarem sintomas poderão coletar o PCR. Além disso, todos os idosos acima de 60 anos e todas as pessoas abaixo de 60 anos com comorbidades também vai ser incluída a coleta de PCR (com sintomas gripais). Isso possibilitará a conduta clínica e também a conduta de vigilância, com o isolamento delas para que não contaminem outras pessoas. Estas pessoas podem procurar pelas Unidades Básicas de Saúde, UPAs e Pronto-Socorros para isso”.

A médica ressaltou que deve-se considerar a situação do nosso país. Mesmo se pudéssemos testar todo mundo, não se sabe se todos teriam condições, até econômicas, de se isolar, especialmente nas periferias.

Dr Marcos Pimenta da Rede Mário Gatti pediu cautela quando aos falsos negativos, uma realidade muito grande em alguns tipos de testes rápidos. Destacou que se soubermos que na população a maioria está negativa, então, na verdade, ela está exposta. Para ele a testagem nos hospitais é preocupante. “Lembrando que a gravidade é relacionada a carga viral e ao tempo de exposição. Profissional de saúde tem estas duas grandes possibilidades. A testagem é vital! Mas, há a questão do absenteísmo com as confirmações. São 14 dias de afastamento e isso desfalca as equipes e sobrecarrega o sistema”.

A questão do aumento do número de infectados entre profissionais da saúde e equipes de hospitais foi destacada por vários debatedores. Dr. Luiz Massari Filho disse: “Existe uma grande quantidade de portadores assintomáticos (…) falando como intensivista, e não como gestor, fico na dúvida se essa testagem vai trazer algum fruto ou tirar ‘soldados’ do ‘campo de batalha’”.

Dr. Carlos Mattos também notou aumento do número de funcionários da saúde infectados na PUCC e chamou a atenção de que pacientes estão buscando o pronto-socorro apenas para fazer o teste. E citou exemplos de pacientes que queriam testes para Covid-19 mas na verdade estavam com Dengue. “Eu compartilho da ideia que se fizer teste em todo mundo, sem critério, e principalmente os testes rápidos que tem muito falso positivo, não vai sobrar ninguém no hospital”.

A Dra. Adriana Feltrin acrescentou um dado interessante. “Depois que ampliamos a testagem em pacientes da comunidade com síndrome gripal, tivemos 30% de PCR positivo na comunidade, em pacientes que não tem nem indicação de internação, um dado que não tínhamos noção na comunidade”. Também ressaltou que aplicando testes sorológicos depois de 14 dias naqueles que tinham teste rápido anterior positivo, muitos não foi possível detectar IgG (indicador de imunidade), alertando sobre a qualidade dos testes. Então isso não tem se demonstrado boa estratégia. Por isso mesmo questiona a testagem indiscriminada de profissionais de saúde e equipes em hospitais”.

EPIs

Um outro tema em discussão foi a questão da qualidade, uso adequado e conservação dos equipamentos de proteção Individual (EPIs).

A iniciativa da SMCC de ter reunido todas as CCIH (Comissão de Controle de Infecção Hospitalar) de hospitais públicos e privados numa reunião inédita no início da pandemia foi celebrada como fundamental para haver uma unidade nas condutas sobre uso de EPIs.

Dr. Luis Gustavo Cardoso, infectologista que representou o HC UNICAMP e o Centro Médico de Campinas, destacou que para aumentar a durabilidade das máscaras N95, principal EPI para profissionais em contato com casos suspeitos, deve-se utilizar uma segunda máscara (cirúrgica ou de tecido) por cima da N95, evitando a contaminação desta pelas gotículas.

A SMCC anunciou durante a transmissão que está preparada para sediar uma nova reunião com todos as CCIH para uma atualização e alinhamento dos serviços hospitalares.

Protocolos de Tratamento (Profilático e Casos Leves)

Outro tema bastante polêmico abordado no Fórum da SMCC foi a questão dos medicamentos usando como profilaxia ou tratamento de casos leves, incluindo a cloroquina / hidroxicloroquina, nitazoxanida, ivermectina e azitromicina.

As opiniões convergiram para a necessidade urgente de haver dados consistentes, provenientes de estudos de qualidade para embasar a conduta.

Dr André Ribas comentou sobre a polêmica de recentes publicacões científicas e destacou a prudência neste momento, mantendo o uso destas medicações apenas para os pacientes que estão sob controle de protocolos de pesquisa.

Algumas instituições em nossa cidade estão conduzindo protocolos de estudo com algumas destas medicações e deverão trazer novidades nas próximas edições dos Fóruns da SMCC.

Confira as participações do II Fórum SMCC “Situação Atual da Pandemia Covid-19 – PERGUNTAS E RESPOSTAS

ANFITRIÃ:
Presidente da SMCC, Dra. Fátima Bastos

MODERADOR:
Diretor de Comunicação e Marketing da SMCC, Dr. Marcelo Amade Camargo

CONVIDADOS:

✔️ Rede Mario Gatti – Dr. Marcos Pimenta (Presidente)

✔️ Departamento de Infectologia SMCC – Dr. Rodrigo Angerami (Coordenador)

✔️ DEVISA – Dra. Valéria Correia de Almeida (Coordenadora de Vigilância e Agravos)

✔️ Faculdade São Leopoldo Mandic – Dr. André Ribas (Epidemiologista)

✔️ HC UNICAMP / Centro Medico Campinas – Dr. Luis Gustavo Cardoso (CCIH)

✔️ Hospital Celso Pierro – Dr. Carlos Mattos (Dir. Clínico)

✔️ Unimed Campinas – Dr. Luiz G. Massari Filho (Diretor DAHSC)

✔️ Hospital Vera Cruz / Casa Saúde  – Dr. Bruno Araújo (Gerente Médico)

✔️ Associação dos Day Hospital Campinas – Dr. José Roberto F.  Amade (Presidente)

✔️ Hospital Galileo – Dr. Gustavo Faidiga (Diretor Técnico)

✔️ Hospital Santa Casa de Campinas – Dr. Leandro Chiarelli (Dir. Técnico)

✔️ Hospital Madre Theodora / Galileo – Dra. Adriana Feltrin (CCIH)


Edições Anteriores do Fórum SMCC

Assista a I e II Edição do Fórum SMCC sobre Situação COVID-19 pelo Canal da SMCC no Youtube

I Fórum SMCC – “Análises e Previsões” CLIQUE AQUI

II Fórum SMCC – “Perguntas e Respostas” CLIQUE AQUI


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