Em sua 12ª edição, o Fórum “Situação Atual Covid-19 em Campinas”, promovido pela Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC) contou com mais uma vez a participação de representantes dos principais serviços de saúde da cidade. Destaque especial para a participação da Coordenadora do Departamento de Vigilância Sanitária (DEVISA), Andrea Von Zuben.
Durante a discussão, foi ponderado que com a reabertura do comércio e de outras atividades econômicas, o rastreamento e isolamento dos casos suspeitos de Covid-19 e de seus contactuantes se torna essencial para evitar um rebote no número de casos, o que poderia levar à eventual necessidade de retomada de restrições às atividades.
Veja ao final deste texto, o posicionamento oficial da SMCC nesse assunto.
Confira o XII Fórum na íntegra:
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Situação dos Hospitais
Passados 21 dias da saída de Campinas da fase vermelha do Plano São Paulo e cerca de 15 dias de experiência na fase amarela, a preocupação dos médicos neste momento é estar atento a qualquer sinal de rebote por conta da retomada das atividades.
No tradicional giro de informações com representantes dos hospitais de Campinas, a situação atual mostra que houve, nos últimos 15 dias, certa estabilidade no número de casos de Covid-19, ainda com uma alta taxa de ocupação em leitos de UTI (90%), mas com queda em leitos de retaguarda na Rede Mário Gatti, que suporta a maior demanda de pacientes.
Já em hospitais particulares, a maioria relatou tendência de queda, porém houve sinalização para um aumento de internações em enfermaria nesta última semana, pelo Hospital Casa de Saúde Vera Cruz.
Dr. Rodrigo Angerami, Coordenador do Departamento de Infectologia da SMCC, ressaltou que a ocupação de leitos de UTI reflete, em grande parte, casos muito graves, com evolução prolongada por infecções secundárias e complicações. E chamou a atenção para o fato que parte dos pacientes internados em Campinas, na verdade é morador de cidades vizinhas (houve momento que essa taxa foi de até um terço dos casos).
Estratégia de Rastreamento: mudanças
Passado o pior momento para a rede assistencial do município, a detecção e manejo dos casos é o foco principal, visando controlar a transmissão e evitar rebotes.
O epidemiologista Dr. André Ribas de Freitas, da Faculdade São Leopoldo Mandic, fez uma apresentação bastante enriquecedora e comentou que o início antecipado da quarentena ajudou a segurar o número de casos em Campinas e região, mas é fundamental garantir o distanciamento das pessoas mesmo após a flexibilização porque o contágio do SARS-Cov-2 se dá preferencialmente de pessoa a pessoa em contatos próximos.
O médico demonstrou que, diferentemente do SARS-Cov-1 (responsável pelos casos de SARS especialmente na região do Oriente Médio no passado) que oferecia uma janela de oportunidade para identificar e isolar os pacientes antes do período de maior transmissibilidade, alguns dias após começarem com sintomas, o SARS-Cov-2 não oferece tal oportunidade, uma vez que a transmissão começa já antes do paciente apresentar os primeiros sintomas, e pode ser até maior nesse período.
Desta forma, a estratégia seria não apenas isolar o caso suspeito rapidamente, mas colocar em quarentena imediatamente todos os contactuantes próximos, até que seja possível testar e confirmar a suspeita do caso inicial. Além de contatos domiciliares, os contatos no trabalho e em situações de lazer (festas e confraternizações) deveriam ser envolvidos se tiverem ficado próximo ao caso suspeito. Trata-se de uma mudança de postura que já foi registrada numa nova versão do manual do Ministério da Saúde e que ainda não está sendo aplicada de fato por alguns Estados e municípios, incluindo Campinas.
A Diretora do DEVISA, Andrea Von Zubem, informou que a rede municipal tem feito contato por telefone com pacientes, orientando e monitorando o isolamento. Comentou que existe uma articulação para possibilitar o monitoramento de visitantes no comércio e usuários do transporte coletivo, visando identificar e enviar mensagens de SMS para os contactuantes de pacientes confirmados. Porém, ressaltou que é necessário investir em tecnologia para atingir um número maior de pessoas.Ainda assim, segundo Andrea, entre os meses de maio a agosto foram contatadas mais de 141 mil pessoas em Campinas.
A coordenador da DEVISA informou que existe um movimento no sentido de conter festas e eventos de lazer que são registrados principalmente em bairros da periferia, envolvendo jovens, que costumam não apresentar sintomas, mas podem ser vetores do vírus.
“…Os problemas para o rastreamento estão, portanto, ligados ao fato de que os resultados dos testes ainda demoram a chegar, não há a realização do exame de PCR precoce, não é feito o PCR do assintomático, além de faltar tecnologia para informar a população e garantir o isolamento” comentou Andrea.
O coordenador do Departamento de Infectologia SMCC, Dr. Rodrigo Angerami, falou que a partir de agora estamos diante da necessidade de identificar precocemente os pequenos ou até micros surtos no comércio, trabalho e ambientes escolares, para evitar que a transmissão comunitária se amplie.
“Não teremos uma bala de prata! E a vacina, seja por uma questão de tempo, efetividade, quantidade e outros fatores, não será conseguida a curto prazo. Por isso, terá que ter esse trabalho ‘raiz’, que eu chamo, de vigilância para identificar os surtos”, atestou Dr. Rodrigo.
Durante sua apresentação, Dr. André criticou mais uma vez a orientação de aguardar três a cinco dias depois do início dos sintomas para colher o Rt-PCR neste período a transmissão já está ocorrendo. Esse ponto já havia sido abordado em edições anteriores do Fórum SMCC e o Coordenador do Departamento de Patologia Clínica da SMCC, Dr. Alex César Galoro, também presente nesta edição, reforçou a capacidade do Rt-PCR poder detectar pacientes mesmo no primeiro dia dos sintomas. Este paradigma de esperar 3 a 5 dias para colher exame não encontra respaldo em recomendações de órgãos internacionais e nem do ponto de vista científico, comentou Dr. André, e o grupo todo concluiu que mudar este paradigma é importante e depende de ampla divulgação.
Dr. Alex comentou ainda que já há testes sorológicos de segunda geração, que prometem desempenho melhor, mas o problema é a diversidade de reações imunológicas entre os pacientes.
Nos casos de pacientes sintomáticos com primeiro exame Rt-PCR negativo seria possível e interessante fazer novo teste se ainda dentro da janela de 8 a 10 dias do início dos sintomas, pois há falsos negativos. “Acredito que sim. Seria custoso fazer isso para todos os pacientes, mas com os critérios de paciente sintomático valeria a pena sim, para casos com maior possibilidade de positividade”, comentou Dr. Alex.
A falta de envolvimento de operadoras de saúde na questão de viabilizar acesso aos testes também foi lembrada na discussão. O serviço público está suportando todo o ônus por muito tempo. Uma abordagem sistêmica (público + operadoras privadas) poderia equilibrar ou até reduzir estes custos, analisando as demandas consequentes por atendimento.
Posicionamento da SMCC
Representada no XII Fórum pela sua Presidente, Dra. Fátima Bastos e pelo Diretor de Comunicação e Marketing, Dr. Marcelo Amade Camargo, a SMCC firmou posicionamento no assunto:
A SMCC endossa uma mudança de postura no enfrentamento da Covid-19 em Campinas, investindo em detectar e isolar precocemente os casos suspeitos e seus contactuantes próximos, para dar mais garantias à contenção de micros e pequenos surtos advindos da flexibilização.
Diante deste contexto, a SMCC também apoia maior estrutura para os trabalhos da DEVISA, com recursos humanos e aparato tecnológico para delimitar os focos de contágio com rapidez e efetividade.
A SMCC defende maior capacidade de testagem e resultados ainda mais rápidos para os exames, em especial o Rt-PCR, que também deve ser solicitado o quanto antes para casos suspeitos, justamente para definir de forma mais ágil a necessidade de manter ou liberar do isolamento quem tiver tido contato com caso suspeito aguardando confirmação.