Estação mais fria do ano também é a mais preocupante do ponto de vista médico; prevenção é fundamental
O inverno é a estação mais preocupante para a saúde das crianças. O frio intenso, como registrado nesta semana, pode ser ainda mais prejudicial. Para ajudar os pais a trabalharem a prevenção e a ficarem atentos a alguns sinais, que precisam de atendimento médico, a pediatra Tania Quintella, do Departamento Científico de Pediatria da SMCC (Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas), fez uma série de esclarecimentos a respeito do frio e das doenças mais comuns nessa época do ano, com dicas bem práticas proteger as crianças. Confira na entrevista a seguir:
1) Estamos registrando temperaturas muito baixas. Os pais devem redobrar os cuidados com as crianças para evitar problemas de saúde mais graves?
Sim, porque o frio desidrata as vias aéreas e, portanto, diminui as defesas locais. Também diminui a sensação de sede e, consequentemente, há uma redução na ingesta de água, que causa desidratação corporal, o que também diminui a imunidade natural. Além do exposto, no frio, há tendência a aglomeração em locais fechados e maior transmissão dos vírus respiratórios.
2) O inverno é a estação mais preocupante para a saúde das crianças?
Sim, porque o inverno é a estação dos vírus respiratórios e a criança é especialmente propensa a contrair viroses respiratórias. As doenças mais comuns nessa época são resfriados, amigdalites, laringites, gripes e quadros asmatiformes.
3) É possível prevenir essas doenças? De que forma?
Temos algumas providências a serem tomadas:
– Evitar ambientes fechados e aglomeração, como as creches, berçários e escolas. Em 2020, com a restrição dessas atividades, tivemos muito menos consultas no pronto-socorro e internações por bronquiolite, asma e pneumonia.
– Retirar chupetas e mamadeiras até 18 meses de idade. A chupeta predispõe a infecções de ouvido e a mamadeira, àa microaspiração de líquidos para as vias aéreas baixas, causando tosse persistente, laringites, broncoespasmo e agravamento de asma, além de pneumonias geralmente graves.
– Fortalecer a imunidade das crianças, com alimentação saudável; sono noturno – fundamental, pois a criança só cresce no sono noturno. Atualmente é chocante a quantidade de crianças sofrendo Privação Crônica de Sono e também Sono Fragmentado com ou sem mamadas noturnas, prejudicando o processo de crescimento e predispondo a doenças de todo tipo. O tempo de sono noturno varia com a idade: bebês até 2 e 3 anos precisam de 12 horas; entre 3 e 6 anos, 11 horas; em idade escolar, de 6 a 10 anos, 10 horas; e adolescentes, 9 horas. Mas a taxa de Privação Crônica de Sono é enorme em todos esses grupos, e interfere na saúde física, na inteligência, na memória e no crescimento emocional.
4) Quando os pais devem ficar preocupados com a saúde dos filhos e procurar um médico/hospital?
Os pais devem preocupar-se e buscar ajuda do pediatra ou o pronto-socorro quando a criança apresentar sintomas e sinais de gravidade como:
– irritabilidade exagerada/choro inconsolável no bebê ou prostração/sonolência/desmaio na criança maior.
– palidez ou cianose (boca e unhas arroxeadas)
– falta de ar/dor no peito
– tosse intensa seguida ou não de vômitos
– dor abdominal, que não cede com analgésicos comuns, associada a vômitos.
5) Em casos de febre, como proceder?
Ah, eu tenho uma receita bem eficaz pra febre:
– 1º – Dar o antitérmico – ibuprofeno é melhor na febre alta
– 2º – Hidratar com soro oral resfriado até urinar. A febre consome água corporal, precisa repor. Brinco dizendo que 60% da febre sai na urina.
– 3º – Banho prolongado ou toalha molhada na água do banho e enrolar na criança; aguardar a febre passar para a toalha
– 4º – Verificar o estado geral após controle da febre e hidratação. Se ficou bem, aguardar mais 24 horas. Se continuar prostrada, ir ao médico ou pronto-socorro.
6) Qual a diferença entre gripe, resfriado e covid? Como saber?
O resfriado é causado por vários vírus e é a infecção viral mais comum que a gente tem – e menos grave. Ele afeta só as vias aéreas superiores, principalmente, nariz e garganta. Existem mais de 200 vírus capazes de provocar um quadro como o do resfriado, que é de febre baixa ou até sem febre, a criança está em bom estado geral, está se alimentando, está animada, só está com o nariz entupido e pode espirrar também. Quando a gente examina, está com a gargantinha vermelha. É só isso. É claro que pode ser covid, pode, mas o único jeito de saber é fazendo o exame de detecção do vírus na secreção nasal, nasofaringe.
A gripe é diferente. É uma doença muito mais séria do que o resfriado. O vírus da influenza, que é o principal causador da gripe, é muito mais agressivo e dá uma diminuída na imunidade, então a gente pode ter outras doenças na sequência. Pode fazer infecções de ouvido, pode fazer pneumonia – e pneumonia pelo próprio vírus da influenza, como também pelo enfraquecimento da imunidade que a influenza provoca -, pode fazer infecção bacteriana por cima. A gripe tem sempre bastante sinais sistêmicos e nem tanto sinais respiratórios como no resfriado. A criança tem mal-estar, tem dor de cabeça, tem mialgia, que são dores pelo corpo, tem falta de apetite, uma prostração, fica assim meio acabadinha mesmo, de cama, muitas vezes. Então a gripe é muito mais séria, tanto para a criança quanto para o adulto. E, no idoso, ela é especialmente grave porque ela faz uma associação com a bactéria da pneumonia, que é o pneumococo.
7) Qual o recado para os pais que ainda não vacinaram as crianças contra a gripe, já que agora a vacinação foi aberta para todas as idades?
O recado aos pais que ainda não vacinaram contra a gripe é: vacinem o quanto antes, as pesquisas indicam que há certa proteção contra coronavírus.