Contra o que chama de stress tóxico, o médico pediatra graduado em Medicina na USP e Doutorado na UNICAMP, Professor Dr José Martins Filho, esteve na Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC) neste sábado, 04/08, para a segunda edição do Fórum de Ideologia de Gênero.
A iniciativa não é inédita na entidade mas ainda é diferenciada no país por reunir para o debate médicos e profissionais de saúde e educação sobre um tema tão polêmico nas redes sociais.
Com 59 mil curtidas na página do Facebook, Dr Martins é conhecido pelos vídeos nas redes sociais em que fala da primeira infância e como os pais precisam ser mais presentes na criação dos filhos. Um dos vídeos sobre criança terceirizada atingiu 234 mil visualizações.
Dr Martins defende a liberdade de escolha da criança tanto que respaldou o título do Fórum da SMCC ao dizer que este não é um assunto de criança. “Precisamos agir de forma natural com as escolhas e comportamento. Não impor as crianças o artigo ou roupas e cores que devem usar. Este é um stress tóxico que causa consequências nas crianças. O corpo reage com freqüência cardíaca e mudanças hormonais. Uma criança sendo importunada, corrigida o tempo todo tende a ter lesões nos neurônios e acontecem modificações físicas, neurológicas e emocionais que transformam a criança. Isso é provado cientificamente”.
A iniciativa do Fórum partiu de um grupo de profissionais que conta com a organização da médica e Diretora do Departamento de Eventos da SMCC, Dra Carmen Sylvia Ribeiro, psiquiatra e neurocientista Mestre em Saúde Mental pela FCM Unicamp.
“Não é só um debate sobre sexualidade, é sobre a identidade do Eu. É o momento da nossa sociedade deixar de ser omissa em discussões que são graves e estão compromentendo toda a estrutura de desenvolvimento social e humano. Estão aumentando os casos de suicidio entre crianças e jovens por causa desta desagregação e frouxidão dos laços familiares e ancestrais do desenvolvimento. O que garante a integridade do ser são as primeiras referências que ele tem. A presença deste amor e deste cuidado é o que faz o indivíduo estruturar o ego para lidar com os conflitos”.
Outros dois nomes importantes no cenário da psiquiatria que estiveram no Fórum foram a Dra Giulietta Cucchiaro, psiquiatra infantil, que analisou e discorreu sobre as reflexões de Judith Butler e a questão da identidade de gênero na infância. A médica comentou como as publicações ajudaram a encarar o debate. “Quando alguém como ela escreve nos faz pensar e até discordar, por que não?! Precisamos fortalecer a presença da família junto as crianças, respeitar a natureza delas e parar de problematizarmos tudo com a criança. Esse debate é nosso, dos médicos, dos psiquiatras, dos pais”.
Pensando nos primórdios do desenvolvimento psíquico da criança, a Professora Dra Sonia Rezende, psicanalista, da UNICAMP, trouxe para o debate os estudos sobre o tema e reforçou o posicionamento. “Lido com o sofrimento dos profissionais de saúde que estão diante dos casos ou de disfonias ou questões genéticas mesmo. Cada caso é um e não se deve generalizar. Não devemos precocemente fazer uma criança se decidir. Precisa aguardar. Histórias reais mostram que esta questão da identidade sexual se resolve conforme o desenvolvimento da criança. Devemos apenas acompanhar o processo”
Depoimentos de participantes do Fórum
Na platéia, estava entre os participantes o médico psicogeriatra que trabalha em São Paulo, Dr Sérgio Ricardo Hototian.
“Na realidade as pessoas não querem se envolver por constrangimento. Ninguém quer sair de casa para ser agredido ou confrontado. Os catedráticos no assunto não estão querendo sair de casa para falar do tema por que estão sendo agredidos. A ciência está sendo agredida. A Sociedade de Medicina de Campinas nos dá coragem de criar eventos como este. Estamos sofrendo um assédio para ficarmos quietos”.
A coordenadora pedagógica da Rede Municipal de Sorocaba, Celma Salermo, também participou do Fórum. “ Estou feliz em participar! Agora não me sinto sozinha. Também estou pensando que existe mais do que o debate social, existe uma questão hormonal, de herança familiar e temos que pensar o todo; mas de cada caso. E não criar uma regra para todos”.
Também da Rede Municipal, mas de Campinas, a educadora Cristiane Lagranha Gigolotti, disse que a SMCC está a frente ao criar um debate que há pouco tempo atrás seria impossível de se ver entre médicos e profissionais de saúde e educação. “Acho fundamental estar juntando médicos e a educação para este tema. Abordamos apenas o social. A área da saúde e desenvolvimento precisam ser vistas. Estamos sem saber nem como falar com os responsáveis pelas crianças com medo da represália”.
Publicações da SMCC
A Cobertura sobre o evento II Fórum de Ideologia de Gênero será também reproduzida na próxima edição da Revista Medicação. O assunto já foi tema de um Boletim exclusivo da Entidade na ocasião do I Fórum LEIA AQUI
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