A Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC) foi representada na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP) em uma reunião do Grupo de Estudos sobre Ideologia de Gênero com membros representantes de várias categorias profissionais, entre eles médicos, psicólogos e educadores, de diferentes estados que vieram a SP especialmente para o Fórum Sexo e Gênero – O desenvolvimento Psicossexual.
O médico pediatra Dr. José Martins falou sobre o desenvolvimento neuromotor e psíquico infantil. Reforçou a questão da importância das influências cerebrais quando se reforça situações de atitudes positivas.
“O cérebro humano nos primeiros 1000 dias sofre muitas modificações. Uma criança nasce com 100 bilhões de neurônios e chega na idade adulta só com 20, ou seja perdemos cerca de 80 bilhões. Os neurônios que ficam, acabam sendo reforçados por experiências vividas. Em minha opinião, as crianças precisam ser deixadas em paz, elas não devem ser precocemente influenciadas com dúvidas sobre o gênero, porque o corpo delas é que vai marcar essa posição”.
A medida que a criança cresce, ela vai se desenvolvendo e livremente percebendo sua identidade, diz o médico.
“Daí é outra história, quando ela fica adulta e vai tendo as influências hormonais que modulam as decisões dela. Agora nós somos absolutamente contra influenciar ideologicamente. Essa é uma posição que defendemos, de permitir que as crianças cresçam livremente, sem nenhuma atitude de forçar a situação, de a criança uma hora ser vista como menino, outra hora como menina; ser influenciada e tal”.
Dr Martins finaliza dizendo:
“Realmente nós não concordamos com essas atitudes indutivas. Respeitamos qualquer outra opção, não incentivamos nenhum tipo de discriminação, mas não queremos que as crianças sejam precocemente influenciadas e até induzidas a mudar a concepção do seu corpo” isto pode ter consequências prejudiciais ao seu desenvolvimento.
Para Dra. Giulietta Cucchiaro o tema da palestra foi “Judith Butler e a Subversão da Identidade de Gênero na Infância”. Enquanto muitos falam sobre a importância de se levar a discussão sobre gênero para todos os níveis da escola (incluindo a pré – escola), nesta palestra, ela alerta sobre um aspecto pouco mencionado nessas discussões, mas que é central no pensamento da filosofa Judith Butler – a subversão da identidade de gênero.
“Butler acredita que as pessoas não desenvolvem suas identidades de gênero e orientação sexual de uma forma natural de acordo com seu sexo biológico, mas sim por influência e imposição da cultura. Então ela propõe uma subversão do desenvolvimento da identidade de gênero convocando uma “política feminista que tome a construção variável da identidade como um pré – requisito metodológico e normativo, senão como objetivo político”. Butler preconiza que “o gênero não deve ser construído como uma identidade estável”, “em vez disso, o gênero é uma identidade tenuamente constituída.” Ela acredita que “a perda das normas de gênero teria o efeito de fazer proliferar as configurações de gênero e desestabilizar as identidades de gênero””.
A médica completa o raciocínio questionando:
“Mas estaria ela falando de crianças? Ora, o desenvolvimento da identidade de gênero se dá justamente na infância, até os 6 anos de idade. Esse processo ocorre de forma natural e descomplicada para a grande maioria delas, que chega a essa idade tendo adquirido um senso sólido de identidade de gênero após passar pelas etapas de identificação com um dos sexos (que ocorre aos 2 ou 3 anos de idade) e desenvolver estabilidade e constância em relação a essa identidade. Deve – se também considerar que a primeira infância é uma fase extremamente delicada (80% do desenvolvimento do cérebro se dá até os 4 anos) e nessa fase do seu desenvolvimento cognitivo as crianças não têm condições de lidar facilmente com contradições do pensamento. Por isso, a subversão da identidade de gênero com a proposta de uma construção variável da mesma, negando à criança a auto – evidência óbvia que ela constata observando seu próprio corpo, e adicionalmente propondo – lhe a vivência de uma multiplicidade de identidades de gênero – quando isso não é uma demanda natural dela – provavelmente seria perturbador causando sofrimento psíquico. As crianças devem ser protegidas desse tipo de interferência para poderem crescer livres e saudáveis”.