Por duas horas, a vacinação anticovid-19 foi discutida em uma live promovida pela Sociedade de Medicina
Por duas horas, a pediatra Dra. Silvia Helena Viesti Nogueira, a infectologista Dra. Raquel Stucchi e a imunologista Dra. Ariana Yang defenderam a aplicação da vacina anticovid-19 em crianças de 5 a 11 anos. O tema foi amplamente discutido em uma live promovida na noite de ontem pelo Departamento Científico de Pediatria da SMCC (Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas). Ainda é possível assistir ao evento on-line neste link.
Com a apresentação de diversas pesquisas feitas no mundo acerca do tema, as três especialistas abordaram as principais preocupações dos pais, como o risco de miocardite, de desenvolvimento de problemas a longo prazo após a vacinação, a diferença entre as vacinas Pfizer e Coronavac, disponíveis para essa faixa etária, e como funciona o nosso sistema imunológico.
De forma geral, os dados comprovam que os riscos de não vacinar a criança são muito maiores, já que as reações adversas graves, como a miocardite, são muito raras após a vacinação. Levantamento nos Estados Unidos, apresentado pela Dra Raquel, aponta que em crianças de 5 a 11 anos, o risco de desenvolver miocardite é de um caso para cada um milhão doses aplicadas, e todos os raros eventos relatados tiveram evolução benigna. De uma forma geral, para todas as idades, dados do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos comparam que os não vacinados têm risco de desenvolver miocardite pela doença Covid 16 vezes maior que os completamente vacinados. Isso significa que os riscos de desenvolver miocardite pela doença são infinitamente maiores que pela vacina.
“Sim, temos que vacinar as crianças. Sim, temos vacinas eficazes e eficientes”, destaca a Dra. Silvia, que é membro da diretoria do Departamento Científico de Pediatria da SMCC. Em sua apresentação, ela falou sobre as diferenças entre as duas vacinas disponíveis para crianças no Brasil. Lembrou que a Pfizer já está na fase 4, que é a última do desenvolvimento da vacina, a do “mundo real”. Os dados mostram que, na faixa etária de 12 a 18 anos, ela possui uma efetividade de 93% em casos de hospitalização. E que a aplicação de duas doses protege em 91% os casos de Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica relacionada à covid (SIMp), que também é uma grande preocupação dos especialistas. Já a coronavac teve sua aprovação emergencial pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em janeiro de 2022, baseada em dados de efetividade após de mais de 3 milhões de doses aplicadas em crianças no Chile, que demonstrou alta proteção contra adquirir a doença covid ( ~76%) e contra hospitalização pela covid ( ~87%), além de demonstrar eventos adversos muito raros.
A Dra. Ariana fez uma explanação sobre como funciona o sistema imunológico e concluiu que reações às vacinas acontecem por dois mecanismos: reação do tipo imediato a algum dos componentes, que ela ressaltou que são extremamente seguros e já utilizados em outros tipos de vacina ou medicamentos, ou reação na fase de ativação, quando nosso corpo está produzindo a “memória” para aprender a combater a doença. Neste caso, as reações podem levar de quatro a cinco semanas. Ela também destacou que os eventos adversos são extremamente raros. “Quando colocamos na balança, ela pende muito mais para que as crianças sejam vacinadas”, afirma.
A Dra. Raquel reforçou que a criança não é poupada da covid-19 e de suas consequências graves. Mostrou dados do Ministério da Saúde que apontam que, nas seis primeiras semanas de 2022, 51 crianças, de 1 a 5 anos, e 94, de seis a 19 anos, morreram por causa da covid-19. Apesar de os números absolutos parecerem relativamente pequenos se comparado aos adultos, ela enfatizou a gravidades deles. “Primeiro, porque criança não é para morrer. Segundo, porque nós podíamos evitar”, afirma. Crianças e adolescentes sem vacina têm uma chance oito vezes maior de precisar de internação, se comparados aos vacinados.
A live contou, ainda, com a participação da médica pediatra Dra Tania Mara Cardoso, que comentou alguns casos de covid-19 em crianças e adolescentes em Campinas, e do pediatra Dr. Alfredo Lopes, que apresentou um panorama dos atendimentos de crianças e adolescentes no Hospital Centro Médico de Campinas.