As metanálises são um tipo de artigo científico que se tornou relativamente popular nas revistas científicas, sobretudo nas duas últimas décadas. São figurinhas carimbadas em palestras proferidas em congressos e em inúmeros outros eventos médicos. Orientam ondutas, servem de base para a elaboração de diretrizes. Parecem funcionar como o fiel da balança em situações de controvérsias clínicas. Mas o que são, de fato?
Metanálise, ou meta-análise (do grego meta: além/depois de + análise: estudo pormenorizado das partes de um todo) já foram também chamadas de “visão de conjunto”, “overview”, “síntese de pesquisa” ou “combinação de estudos”. Prevaleceu mesmo “metanálise”. Ela é um conjunto de técnicas estatísticas desenvolvidas para se combinar resultados obtidos por diferentes estudos científicos, desde que os dados sejam agrupáveis e padronizados. Esta maneira de “agrupar” os resultados de várias pesquisas permite que se reduza o desvio-padrão (portanto, a dispersão estatística dos dados obtidos nos estudos) e o intervalo de confiança das amostras, que aumenta o “poder” estatístico e, consequentemente, o “poder” das conclusões obtidas a partir dali. Estas conclusões são também chamadas de “estimativas metanalíticas”. Uma outra vantagem da técnica é possibilitar a inclusão de futuros estudos, o que permite, de forma razoavelmente simples, a atualização frequente das conclusões obtidas por uma metanálise anterior.
Uma revisão sistemática (RS) é a base para a realização de uma metanálise. A RS é a técnica que permite o levantamento de estudos de boa qualidade focados em um tema específico (lembrar do P.I.C.O., em artigos anteriores desta coluna). Uma vez realizada, selecionam-se, no interior da RS, aqueles estudos que possam ser agrupáveis e igualmente padronizados.
Elabora-se, então, a metanálise. Num sentido conceitual mais amplo, a metanálise é também uma maneira de sistematizar ainda mais, de forma lógica, resumida, facilmente compreensível e conclusiva a visão de “um todo” exposto numa RS. Lembremos que uma RS pode abarcar conclusões diferentes, até mesmo conflitantes, a respeito de um mesmo tema. A metanálise ajuda a “clarear” algumas RSs.
O termo “metanálise” parece ter sido utilizado pela primeira vez em 1976, por Eugene V. Glass, um estatístico norte-americano. Entretanto, há fortes evidências de que os princípios da metanálise já se apresentassem em tempos tão antigos quanto o século XVII, quando observações astronômicas de um mesmo evento, conduzidas por diferentes astrônomos, foram sintetizadas com o objetivo de confirmar a exatidão do observado entre eles. Já a primeira metanálise da história é atribuída ao estatístico Karl Pearson, que em 1904 combinou os dados de onze estudos para analisar a efetividade de inoculações na prevenção da febre tifoide. A razão para a realização desta combinação foi a mesma que orienta a elaboração de metanálises até hoje: a casuística relativamente baixa em cada um dos estudos. Em 1955 Beecher publicou a primeira metanálise para se avaliar o resultado de uma intervenção terapêutica em medicina: quantificou o poder do efeito placebo.
O resultado sintético produzido por uma metanálise é ponderado, uma vez que se atribui um peso diferente a cada estudo, de tal forma que cada um contribua de forma diferente (com peso diferente) para a conclusão final. Estudos com maior casuística e menor variabilidade nos resultados possuem um peso maior na estimativa metanalítica. O método mais utilizado para e atribuir peso a cada estudo é o inverso da variância (o quadrado do desvio-padrão), ou seja, quanto maior for a variabilidade, menor será o peso do estudo em questão na conclusão final.
Em geral, qualquer técnica de análise estatística pode ser aplicada a uma metanálise, dependendo apenas da natureza dos dados e dos objetivos do estudo. A forma como os dados poderão ser tratados dependerá quase exclusivamente da fonte da qual eles foram obtidos: se dispusermos dos dados brutos/originais ou apenas da estatística dos dados (médias, desvios-padrão, coeficientes angulares, proporções, dentre outros).
Em breve, falaremos sobre Resultados e Interpretação de Metanálises.
Até a próxima!