Revista Medicação Ed. Jan/Mar 2019
Artigo da Coluna DESTAQUE CIENTÍFICO

Arboviroses de A à Zika: cenário atual e perspectivas

Nos últimos cinco anos as arboviroses vêm se mostrando alguns dos principais problemas de saúde pública a serem enfrentados e um enorme desafio à prática médica no Brasil e no mundo.

Dr. Rodrigo Angerami

Nos últimos cinco anos as arboviroses vêm se mostrando alguns dos principais problemas de saúde pública a serem enfrentados e um enorme desafio à prática médica no Brasil e no mundo.

E O QUE ESPERAR PARA 2019?

Surtos de dengue já vêm sendo reportados em diversos estados do país. Segundo Ministério da Saúde, o número de casos prováveis de dengue no Brasil em janeiro desse ano já era mais que o dobro quando comparado com o mesmo período de 2018. No estado de São Paulo, a doença avança na região centro-oeste paulista, com vários municípios sob epidemia e diversos óbitos já reportados. O cenário atual é preocupante, sobretudo pelo retorno do sorotipo 2 do vírus, que volta a circular após dez anos e já predomina em 2019 em boa parte do país, pondo em risco – de nova e mais grave segunda infecção – milhões de pessoas expostas aos demais sorotipos nos últimos anos. No que tange aos vírus Zika e, mais especificamente, o chikungunya, ainda que o cenário (ainda?) não seja de surto, casos vêm ocorrendo e com eles os riscos de complicações. No caso do Zika, além das complicações neurológicas (sobretudo, síndrome de Guillain-Barré e mielite), a microcefalia e demais malformações congênitas relacionadas permanecem como motivo de preocupação para as mulheres em idade fértil e aquelas em gestação. Em relação ao vírus chikungunya, sua circulação já existe e casos vêm sendo notificados no estado de São Paulo. Vale mencionar que, além das complicações articulares (agudas, subagudas e crônicas) bem conhecidas, vários casos fatais atribuídos ao chikungunya vêm sendo reportados. E mais. Desde o fim do ano de 2016 e início de 2017, o que se vê no estado de São Paulo é a expansão do vírus da febre amarela por “corredores verdes”, através dos quais a doença – em seu ciclo de transmissão, até o momento, exclusivamente silvestre – passou a ocorrer em novas áreas, agora nas regiões de Campinas, Grande São Paulo, litoral paulista e, mais recentemente, desde o fim de 2018, no Vale do Ribeira, a principal “zona quente” da doença em 2019. Especificamente na região de Campinas, em 2019, houve apenas um caso confirmado, residente e infectado no município de Serra Negra. Considerando-se o cenário atual – de co-circulação dos vírus da dengue, zika e chikungunya e febre amarela – fica patente que, além da necessidade de intensificação das ações de controle do Aedes aegypti e prevenção das arboviroses, profissionais de saúde têm importância imprescindível para minimizar a morbi-letalidade relacionada a esse grupo de doenças. Para tanto, alguns princípios devem nortear aqueles que são os responsáveis pelo atendimento de casos suspeitos de arboviroses, independentemente da etiologia:

  • sempre obter informações atualizadas sobre a situação epidemiológica das arboviroses;
  • reconher precoce e oportunamente casos suspeitos;
  • identificar os possíveis diagnósticos diferenciais;
  • realizar o estadiamento clínico reconhecendo os eventuais sinais de alerta ou gravidade;
  • adotar as medidas terapêuticas gerais e específicas para cada agravo;
  • utilizar e interpretar adequada e racionalmente os métodos diagnósticos laboratoriais disponíveis; e
  • notificar todo caso suspeito ao sistema de vigilância.

Fonte: http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/PDF/2017/outubro/16/Volume-Unico-2017.pdf             No entanto, ainda assim, a abordagem deverá ser muito mais fundamentada na identificação de pacientes sob maior risco de complicações e progressão para formas graves das arboviroses: aqueles que apresentam sinais de alarme e/ou pacientes pertencentes a grupos de risco. Concluindo, Mayaro, Oropouche e, mais recentemente, o vírus da febre do Nilo Ocidenteal são alguns dentre os arbovirus emergentes no país. Mas esses são temas para outro momento. O que é certo, parafraseando Mário de Andrade em seu Macunaíma, de 1928, é que “Inda tanto nos sobra, por este grandioso país, de doenças e insectos por cuidar!”. Dr. Rodrigo Angerami Coordenador do Departamento de Infectologia da SMCC Seção de Epidemiologia Hospitalar, Hospital de Clínicas, UNICAMPDepartamento de Vigilância em Saúde de Campinas Referências e Fontes para Consulta: http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2014/marco/21/fluxo-denguefinalissimo2-.pdf http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2016/marco/24/MicrocefaliaProtocolo-vigil–ncia-resposta-versao2.1.pdf http://www.saude.sp.gov.br/cve-centro-de-vigilancia-epidemiologica-prof.- alexandre-vranjac/areas-de-vigilancia/doencas-de-transmissao-por-vetores-ezoonoses/agravos/febre-amarela/boletim-epidemiologico    

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