Quatro especialistas promoveram grandes discussões sobre o tema, que ainda gera muitas vítimas em todo o mundo
A Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC) realizou o evento “Violência contra Mulheres”, que discutiu os aspectos médicos, legais e até históricos desse grave problema social. O evento, em formato híbrido, aconteceu presencialmente no anfiteatro da SMCC, com transmissão ao vivo via Zoom e pelo canal oficial da SMCC no YouTube, onde está disponível para visualização NESTE LINK.
Durante as duas horas de evento, especialistas de diversas áreas compartilharam suas visões sobre a violência contra as mulheres. O organizador e moderador do evento, Dr. Kléber Cursino de Andrade, abriu o encontro destacando a sutileza com que a violência se manifesta. Ele enfatizou que a agressão muitas vezes “se esconde de maneira muito ardilosa” e que é crucial ouvir as vítimas, pois frequentemente os agressores não reconhecem seus atos. “Nós precisamos mudar essa cultura de violência contra a mulher”, reforçou.
O desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, Dr. José Henrique Rodrigues Torres, foi o primeiro a palestrar. Ele trouxe dados alarmantes sobre a violência de gênero, relembrou fatos históricos e destacou personagens que simbolizaram a luta das mulheres ao longo dos séculos. Ele também abordou os avanços trazidos pela Lei Maria da Penha e os movimentos que deram voz às mulheres. No entanto, o desembargador fez uma crítica. “De que adianta termos todas essas leis, se não garantimos os direitos?”. E concluiu. “Se não fizermos uma transformação geral, será muito difícil esse combate”.
Na sequência, a Dra. Fernanda Garanhano de Castro Surita, professora titular de Obstetrícia do Departamento de Tocoginecologia da FCM/UNICAMP, falou sobre a “Abordagem da violência doméstica pelos profissionais de saúde”. Ela compartilhou o trabalho desenvolvido por sua equipe no CAISM (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher) e criticou o tabu que envolve o tema da violência. “Falar de violência é um tabu, para a vítima, para o profissional de saúde, para os familiares. Isso ajuda a dar invisibilidade”, destacou. Ela também ressaltou a falta de discussão sobre o tema no ambiente acadêmico.
O Dr. José Paulo de Siqueira Guida, também professor do Departamento de Tocoginecologia da FCM/UNICAMP, abordou os desafios na assistência às vítimas de violência sexual. Ele trouxe dados impactantes, como o fato de que uma em cada oito mulheres já sofreu violência sexual por parte de não parceiros, enquanto o número sobe para 25% quando o agressor é conhecido. O professor detalhou o conceito de consentimento e explicou o atendimento realizado no CAISM, destacando que o atendimento imediato visa evitar consequências físicas e psicológicas para as vítimas. “A gente não tem registro de gestação nos últimos cinco anos, dentro desse grupo de mulheres que recebeu o atendimento até o 5º dia, e de transmissão de HIV também”, afirmou, sobre a eficiência do trabalho.
A Dra. Miriam Siesler Nóbrega, coordenadora da área técnica da saúde da mulher na Secretaria de Saúde de Campinas, encerrou as apresentações explicando os projetos desenvolvidos na cidade para prevenir e dar suporte às mulheres vítimas de violência.
O evento está disponível no canal do YouTube da SMCC para quem quiser conferir as discussões e contribuições feitas pelos especialistas. Acesse abaixo.
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