Dados da Demografia Médica 2023 estimam que, em 2035, mulheres vão representar 56% de todos os profissionais médicos
Este ano deve entrar para a história da medicina como sendo o primeiro da história em que as mulheres se tornam maioria entre os médicos no Brasil. A previsão é da Demografia Médica 2023, que estima 299.749 (50,2%) médicas e 297.678 (49,8%) médicos. Em 2035, as mulheres devem representar 56% de todos os profissionais médicos; a proporção deve ser ainda maior, quando considerada a faixa etária de até 40 anos, que deverá ser composta por sete mulheres a cada 10 profissionais médicos.
O crescimento consistente das mulheres na medicina já é perceptível há anos. Entre 2009 e 2022, por exemplo, o número de mulheres saltou de cerca de 133.000 para aproximadamente 260.000. Já entre os homens, o crescimento foi mais lento no mesmo período, com aumento de cerca de 43%. Entre 2023 e 2035, o crescimento previsto entre as médicas será de cerca de 118%, enquanto, entre os homens, será de 62%.
No entanto, apesar desse avanço quantitativo, ainda existem desafios significativos no que diz respeito à equidade de gênero no campo salarial. Dados da Demografia Médica 2023 revelam que, em 2020, a renda média declarada pelas mulheres médicas ficou consideravelmente abaixo da dos homens, representando apenas 63,7% do rendimento masculino. Mesmo na faixa etária de 41 a 50 anos, a renda das médicas ainda alcançava apenas 65% da renda dos médicos.
Os desafios das mulheres médicas não se restringem apenas à diferença de salários. Formada há mais de 40 anos, a coordenadora do Departamento Científico de Geriatria da SMCC (Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas), Dra Susete Marques Pereira, além de praticar a medicina no dia a dia, já ocupou diversos cargos de gestão na área da saúde. “Olhando para trás, percebo sim que já enfrentei preconceito, especialmente nas funções administrativas, mas também tive apoio e reconhecimento dos meus pares”, diz.
Quase quatro décadas depois, embora tenha havido muita evolução, as mulheres ainda enfrentam desafios nessa área. Estudante do 8º período do curso de medicina, a coordenadora do Departamento Acadêmico da SMCC, Gabriela Jorge El Rassi, destaca que a luta pela igualdade de gênero na medicina é recente. “E nós, mulheres, ainda sofremos com preconceito e discriminação, principalmente em áreas com maior prevalência masculina, como os centros cirúrgicos”, diz. “Acredito que a entrada das mulheres na medicina foi um grande avanço, mas precisamos de mais mulheres assumindo papéis de liderança médica. Devemos formar redes de apoio entre nós, mulheres, para promover cada dia mais a liderança feminina na profissão”, complementa.
Dados em Campinas:
Quando consideramos um recorte regional, com base nos dados de associados da SMCC (Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas), 38,7% dos médicos associados são mulheres. Além disso, dos 31 Departamentos Científicos, nove são coordenados por médicas. Destaca-se também que o Departamento Acadêmico, assim como o Departamento Interdisciplinar de Prevenção ao Suicídio, são coordenados por mulheres.
“Os números não representam, necessariamente, o retrato da situação em Campinas. Essa é a realidade das nossas associadas, considerando que somos umas das maiores sociedades médicas do interior de São Paulo. Cientes da importância da mulher para a sociedade como um todo, a SMCC está desenvolvendo uma série de ações direcionadas ao público feminino, para que elas tenham representatividade, voz, reconhecimento e respeito”, afirma o diretor Comercial e de Marketing da entidade, Prof. Dr. Giuliano Dimarzio.
Setores como pediatria, ginecologia e obstetrícia, e clínica médica se destacam como os mais representativos em termos de associações femininas na SMCC, com 21,3%, 12% e 10%, respectivamente.
“Esses números refletem não apenas a representatividade feminina crescente na medicina, mas também a liderança e influência das mulheres em diversas áreas e especialidades. A SMCC reconhece a importância desses avanços e reitera seu compromisso com a promoção da igualdade de gênero e o reconhecimento do papel fundamental das mulheres na medicina e em toda a sociedade”, frisa o presidente da SMCC, Dr. José Roberto Amade.