José Aurélio Ramalho, diretor presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária Sociedade apoia o movimento, que trabalha para um trânsito mais seguro
O Maio Amarelo, movimento de conscientização sobre a importância de um trânsito mais seguro, chega este ano à sua 8ª edição, com um tema muito atual: Respeito e responsabilidade: pratique no trânsito. Ciente da importância de reduzirmos o número de mortes e feridos no trânsito, a SMCC apoia essa causa há vários anos e desenvolve diversas ações de conscientização. Para entender um pouco melhor a relevância deste trabalho, conversamos com José Aurélio Ramalho, diretor presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária, idealizador do movimento. Confira a entrevista:
SMCC – O Maio Amarelo deste ano vai trabalhar o tema Respeito e responsabilidade: Pratique no trânsito. Como e por que este foi o tema escolhido?
Ramalho – A campanha é focada nas atitudes que têm faltado, ultimamente, em diversos ambientes de convivência, como respeito e responsabilidade. Ela reflete bem toda nossa atual vivência no trânsito, muita impaciência e intolerância. É preciso parar e refletir como o trânsito representa nosso atual estado de espírito. Por isso, o Maio Amarelo quer fazer pensar: será que é preciso ser assim?
SMCC – Dentro de um cenário de pandemia, em que as ações presenciais de conscientização ficam mais difíceis, que tipo de ação vocês sugerem para que a mensagem chegue ao maior número de pessoas?
Ramalho – Incentivamos a toda sociedade a realizar ações virtuais, como lives, reuniões virtuais e, claro, compartilhar todo o material da campanha, em seus canais de comunicação, como sites, blogs e redes sociais para que levemos a causa do trânsito para toda a sociedade. (As peças da campanha podem ser acessadas neste link: https://maioamarelo.com/respeito_e_responsabilidade_pratique_no_transito/ )
SMCC – Como foi a adaptação do Maio Amarelo na pandemia?
Ramalho – O Movimento Maio Amarelo, desde as ações do ano passado, precisou se reinventar, devido à pandemia da Covid-19 e às recomendações das autoridades de saúde pública para que todos pratiquemos o isolamento social, evitando assim, a propagação do vírus que acomete milhões de pessoas em todo mundo.
Construído em cima de relações, contato social e reuniões, tivemos que nos reinventar em 2020 e, novamente este ano, enquanto coordenadores do Movimento nacionalmente, devemos incentivar toda a sociedade a realizar ações virtuais (lives, reuniões virtuais e palestras, compartilhamento do material da campanha em suas redes sociais, entre amigos e conhecidos, em sites, blogs e redes sociais).
Enquanto isso, o Movimento concentrará suas forças nos canais de comunicação de massa – rádio, TV, redes sociais, jornais, revistas -, fazendo com que a mensagem de um trânsito seguro chegue à sociedade sem que as pessoas se reúnam. A intenção é que, durante os 31 dias de maio, falemos de conscientização sobre a segurança no trânsito em casa, no trabalho, mas de forma a não aglomerar.
SMCC – Por falar em pandemia, qual o impacto dela nas ocorrências de trânsito?
Ramalho – Mesmo que você perceba uma redução na estatística de lesões ou óbitos no trânsito, nós temos que ter a percepção de que continuam acontecendo acidentes. As pessoas, nesse período de isolamento, até por terem a impressão de menos carros nas ruas, avançam um pouco na velocidade. É sempre importante reduzir o número de acidentes e, consequentemente, evitar danos, mortes e sequelas para as pessoas, mas infelizmente, ainda é preocupante o número de acidentes que acontecem mesmo durante a pandemia. A falta de consciência durante este período de pandemia pode fazer com que a vítima precise de um leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e não consiga. A pessoa que sofrer um acidente grave de trânsito hoje estará disputando um lugar na UTI com uma pessoa infectada com o vírus da Covid-19.
SMCC – Na sua avaliação, qual foi o resultado da Década de Ações para a Segurança no Trânsito?
Ramalho – Não conseguimos alcançar a meta estabelecida pela ONU de 50% das mortes no trânsito, infelizmente, o Brasil reduziu pouco menos de 30% do total de óbitos, no período 2011-2020, mas diminuímos a tendência crescente nos níveis de letalidade no tráfego brasileiro.
SMCC – De forma geral, o brasileiro está mais consciente e responsável no trânsito? Se sim, por quê?
Ramalho – O brasileiro está começando a se conscientizar em relação ao trânsito. Quando falamos em Educação para o Trânsito, abordamos um tema extenso e complexo, tanto para desconstruir a imagem e anular vícios dos condutores já formados, experientes e que circulam no dia a dia, quanto para as novas gerações, que precisam realmente aprender sobre condução segura e defensiva e não apenas decorar regras de trânsito para tirar a CNH.
SMCC – Qual a receita para o Brasil ter um trânsito mais seguro?
Ramalho – Não existe uma receita prática. Precisamos investir em educação para o trânsito, praticar o respeito e a responsabilidade, como diz o mote do Movimento Maio Amarelo deste ano, acreditar e seguir as regras de trânsito e deixar de lado a ideia recorrente de indústria da multa. O trânsito mais seguro é um reflexo de uma sociedade mais instruída e consciente do seu papel e obrigação social.
SMCC – Se você pudesse dar apenas um conselho para motoristas e pedestres, que os ajudaria a melhorar a segurança no trânsito, qual seria?
Ramalho – Praticar a empatia e a percepção de risco no trânsito. Se todos nós, ao sairmos de casa todos os dias, seja para ir ao trabalho, levar as crianças à escola ou fazer uma viagem, nos disciplinarmos para praticar essa postura nas vias, ruas e rodovias, podemos ter certeza que os números de lesionados e óbitos no trânsito brasileiro cairão drasticamente.
SMCC – O senhor poderia contar como surgiu a ideia de fazer o Maio Amarelo e o que mudou no Movimento de 2014 para cá?
Ramalho – O Movimento Maio Amarelo nasceu com uma só proposta: chamar a atenção da sociedade para o alto índice de mortes e feridos no trânsito em todo o mundo. O objetivo do movimento é uma ação coordenada entre o Poder Público e a sociedade civil, com a intenção de colocar em pauta o tema segurança viária e mobilizar toda a sociedade, envolvendo os mais diversos segmentos: órgãos de governos, empresas, entidades de classe, associações, federações e sociedade civil organizada para discutir o tema, engajar-se em ações e propagar o conhecimento, abordando toda a amplitude que a questão do trânsito exige, nas mais diferentes esferas.
Nos últimos sete anos, estamos vendo os índices de mortes por acidentes de trânsito no Brasil caírem, porém, são vários os fatores que contribuem com essa redução. Podemos incluir nesses fatores o próprio Movimento Maio Amarelo, que foi criado aqui em Indaiatuba, no interior do estado de São Paulo, e hoje está presente em mais de 30 países. O Maio Amarelo é um movimento social e toda sociedade pode participar sem precisar pedir permissão para alguém. Fazer o trabalho de conscientização é responsabilidade de cada um: das empresas, dos órgãos públicos e da sociedade civil organizada.
SMCC – Para finalizar, quais são os planos do Movimento para os próximos anos?
Ramalho – Alcançar cada vez mais pessoas, fortalecer o Movimento com a sociedade, levar educação para o trânsito e conscientização, desde a base do ensino fundamental para as novas gerações com nossos programas e projetos, desenvolvidos em parceria com o Poder Público e a sociedade civil para criar cidadãos mais conscientes sobre a sua responsabilidade social no trânsito.