Pneumologista da SMCC esclarece principais dúvidas sobre a asma

21 jun, 2021 | Notícias

Dr. Rene Penna Chaves Neto

No dia em que se comemora o Dia Nacional de Controle da Asma (21/06), nós conversamos com o coordenador do Departamento Científico de Pneumologia da SMCC, Dr. Rene Penna Chaves Neto, sobre essa doença que atinge cerca de 20 milhões de pessoas no Brasil.

A asma é uma doença pulmonar inflamatória crônica, que não tem cura, e atinge pessoas de todas as idades, em graus diferentes. Confira a entrevista a seguir:

Apesar de a asma atingir pessoas de todas as idades, há uma faixa etária mais propensa? Por quê?

A asma incide predominantemente na infância e, geralmente, apresenta uma janela imunológica a partir da puberdade e adolescência, expressada por uma pausa nos sintomas. Esses sintomas podem reaparecer na idade adulta ou até mesmo entre os idosos. Normalmente um adulto com asma brônquica apresenta história de asma na infância ou, quando negam, muitas vezes se trata de um subdiagnóstico da enfermidade, o que é muito comum, tratando-se de um adulto na faixa dos 50 a 60 anos de idade hoje. Estima-se que a prevalência da asma é de 20% entre os brasileiros e que apenas metade deles mantenham sua asma controlada adequadamente. 

Quais os sintomas da asma? Ela pode ser confundida com outras doenças?

A asma é uma enfermidade inflamatória crônica, porém reversível, das vias aéreas inferiores. Sua fisiopatologia se manifesta com a tríade edema da mucosa, produção exacerbada de secreção e contratura da musculatura lisa da parede brônquica (broncoespasmo), resultando em estreitamento das vias aéreas e, consequente, dificuldade da passagem do ar devido ao aumento da resistência brônquica. Traduzindo em sintomas, a pessoa sente dificuldade respiratória (dispneia), tosse seca ou produtiva e o clássico chiado no peito (sibilos), inicialmente na fase expiratória da respiração, mas conforme a gravidade do quadro, em ambas as fases. Inúmeras outras patologias respiratórias podem se manifestar inicialmente com esses sintomas, como DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica), bronquiolite, fibrose pulmonar e até mesmo doenças cardiocirculatórias, portanto, o diagnóstico diferencial e etiológico preciso devem ser realizados por profissional médico especializado no sistema respiratório, o pneumologista.

Quais as causas da asma?

Quase que invariavelmente a exacerbação da asma é desencadeada por uma exposição das vias aéreas a um agente irritante (antígeno) capaz de estimular uma reação alérgica e inflamatória exagerada nos pacientes asmáticos, podendo ser, mais comumente, a poeira doméstica e ácaros, pelos e epitélio de animais, alimentos, medicamentos, poluição, viroses e infecções bacterianas ou até mesmo exercícios físicos. Importante salientar que os fatores desencadeantes não são uniformes entre a população asmática, podendo as reações diferirem individualmente em intensidade e tipos de antígenos.

É possível prevenir a asma?

Basicamente as medidas de prevenção de contato com os fatores desencadeantes são fundamentais, mantendo-se o ambiente de moradia e trabalho adequadamente higienizados, que geralmente são os de maior permanência das pessoas. Dependendo da intensidade da asma, as medidas podem partir desde somente sanitárias até o uso contínuo de medicações.

A asma possui graus diferentes? Se sim, quais são e quais as características de cada um?

A asma é classificada em graus que vão de leve, moderada a grave, e geralmente são utilizados questionários para defini-los. São avaliadas a frequência e a intensidade das crises. 

Atualmente, além do questionário de controle da asma da Global Initiative for Asthma (GINA), dispomos de outras ferramentas para a monitoração da asma, já adaptadas culturalmente para uso no Brasil, incluindo o Questionário de Controle da Asma e o Teste de Controle da Asma. Embora a espirometria não faça parte da avaliação de controle da GINA e do Teste de Controle da Asma, quando disponível, a avaliação funcional deve ser feita a cada 3-6 meses para estimar o risco futuro de exacerbações e de perda acelerada da função pulmonar.

A pessoa pode ter a primeira crise de asma depois de adulta?

Apesar dos adultos asmáticos apresentarem um passado de asma na infância, há ocorrências de asma iniciadas na fase adulta, a chamada asma tardia.

A asma não tem cura, mas tem tratamento. Quais são?

A meta do tratamento da asma é o controle do processo inflamatório nas vias aéreas, com consequente redução drástica das exacerbações e intercorrências, fazendo com que o asmático possa usufruir de uma vida saudável e sem restrições, em decorrência de sua enfermidade. Para atingir essa meta, há necessidade de um correto diagnóstico, identificação dos principais fatores desencadeantes, classificação de gravidade e, a seguir, instituir a terapêutica apropriada para cada caso. A adesão ao tratamento e a disciplina na posologia dos medicamentos é essencial para esse êxito.

Pessoas com asma devem ter mais cuidado por causa da Covid-19? Em que caso a asma pode ser um agravante?

Em toda situação de aumento de doenças respiratórias, o asmático está incluído como grupo de risco, seja na época das viroses sazonais, variações climáticas, poluição, tabagismo, etc. No caso da covid-19, a situação não é diferente, portanto, a asma grave, bem como outras doenças respiratórias, foi incluída nos protocolos de comorbidades para imunização prioritária entre os grupos populacionais, conforme faixas etárias.

Estamos iniciando o inverno. Este é um período pior para os asmáticos? Se sim, por quê? É necessário ter cuidados extras nesta época do ano?

Existe uma correlação direta entre a exacerbação da asma e as doenças de inverno, as chamadas doenças sazonais. As explicações já são bem conhecidas pois é uma época em que há maior confinamento das pessoas em locais aquecidos, portanto, aglomerações, utilização de roupas e cobertores com maior poder de acúmulo de poeiras, geralmente guardados por longo tempo em armários sem ventilação, utilização de aquecedores centrais com tubulações sem manutenção, entre outras. A orientação é que sempre se faça a lavagem das roupas antes de usá-las e com secagem ao sol, para que se consiga eliminar os ácaros e mofo. Com o novo hábito de utilização de máscaras devido à pandemia, talvez ocorra uma diminuição dessas exposições. As imunizações anuais contra influenza e, a cada cinco anos, contra o pneumococo, também são necessárias para prevenção das doenças respiratórias infecciosas mais comuns.

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