Na noite da última quinta-feira, 06 de agosto, a 11ª Edição do Fórum SMCC “Situação Atual Covid-19 em Campinas” contou mais uma vez com expressiva participação de médicos e representantes dos principais serviços de saúde de Campinas que relataram a rotina de atendimento e novos desdobramentos no enfrentamento da pandemia.
O conteúdo completo do 11º Fórum SMCC pode ser assistido pelos Canais da SMCC:
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Situação Na Cidade
O tradicional “giro” com a situação dos leitos e atendimentos nos hospitais revelou, como já havia sido previsto na semana anterior, uma evolução favorável para passagem para a fase amarela do plano do governo do Estado de São Paulo pandemia. Os números ainda são altos e demandam preocupação, mas uma tendência de queda é observada.
O destaque foi para a participação, pela primeira vez no Fórum, do Hospital Beneficência Portuguesa de Campinas, representado pelo Dr. Luis Fernando Waib.
O Secretário de Saúde de Campinas, Dr. Carmino de Sousa, comentou ter receio de que esta notícia da reabertura de serviços, clubes e restaurantes possa levar a um afrouxamento das medidas protetivas e de higiene na população. Ainda assim comemorou a situação de Campinas.
“Tenho um orgulho de ser Secretário (de Saúde) desta cidade. Nossa cidade não teve colapso (…) já começamos a conversar sobre a reformatação da nossa rede. Não pretendo desfazer nenhum acordo ou contrato feito, mas o (Hospital) Mário Gatti e algumas clínicas precisam desafogar. Precisa reverter para dar vazão ao atendimento. O movimento continua igual, mas os casos graves estão maiores”.
Dr. Carmino relatou que o número de casos de síndrome gripal não diminuiu, mas são números animadores. Para ele, a gestão de leitos feita pelo Município de Campinas, com a abertura 24 horas da Central de Regulação, foi um dos determinantes para o sucesso da administração da situação no município e garantia de atendimento. Afirmou que o Estado perdeu uma oportunidade de aproveitar o momento para fazer uma regulação metropolitana.
Apesar do novo Inquérito Soroepidemiológico para Covid-19 estar em andamento, o Secretário também adiantou que Campinas deve atingir uma estimativa de um total entre 80 e 100 mil casos. Confirmou que irá desativar o Hospital de Campanha, mas este não será desmontado.
O Coordenador do Departamento de Infectologia da SMCC, Dr. Rodrigo Angerami, comentou que é preciso coerência nas ações e ajuda da população neste momento.
“Nós já tivemos rebotes… a população achou que estava tudo resolvido e teve novo aumento de casos, então é isso que precisa se preocupar para seguirmos da fase amarela para a verde. Então, agora vamos falar de vacinação e imunidade”.
Mediador do Fórum, o Coordenador de Comunicação e Marketing da SMCC, Dr. Marcelo Amade Camargo, comemorou o estágio em que Campinas está com a eminência de seguir para a fase amarela. “Comparando com outras cidades da região e interior que passam neste momento pelo que passamos há um mês atrás, mostra que fizemos um bom trabalho”.
Imunidade e Imunização
Os Imunologistas Dr. Antônio Condino Neto e Dr. Antônio José Pinho Jr., ambos do Departamento Científico de Alergologia e Imunologia da SMCC, foram convidados especiais do evento e discorreram sobre as recentes evidências a respeito da imunidade relacionada ao Covid-19.
Em seguida, o infectologista do HC-UNICAMP, Dr. Francisco Hideo Aoki, também convidado especial do fórum, discorreu sobre os testes com uma vacina em Campinas e suas expectativas.
A complexidade do assunto e profundidade da discussão foi tamanha que a descrição dos pontos de destaque tradicionalmente feita nas matérias de cobertura do evento não reflete totalmente o debate. Sugerimos que os colegas assistam o vídeo gravado no Canal da SMCC no Youtube (ou ouçam o podcast no canal da SMCC no Spotify) para ter a real noção dos fatos.
Entre os (alguns) destaques, Dr. Condino relatou que a imunidade contra Covid-19 pode vir pela via humoral (anticorpos) assim como também pela via celular. Destacou que as crianças têm um sistema imunológico mais imaturo e, por isso, tem menos consequências da temida “tempestade de citocinas”. O imunologista reforçou usar o teste de Rt-PCR na fase sintomática e reservar os testes sorológicos para além do 14º dia após início da doença; sendo estes mais úteis para inquéritos sorológicos.
“Como o vírus penetra pelo bulbo olfativo, temos que ficar atentos às crianças nascidas na pandemia e que se contaminaram, pois pode haver consequências no cérebro. Também não sabemos se no futuro teremos um aumento nos casos de insuficiência renal, doenças pulmonares, infertilidade etc., pois tudo é incerto sobre a ação do vírus no organismo a longo prazo”, informou o médico.
Dr. Condino trouxe ao Fórum uma observação interessante sobre casos de resistência em que a pessoa é exposta ao vírus e não pega a doença. “Existe a hipótese de que muitos de nós já estamos protegidos contra este vírus e a vacina traria então uma especificidade de proteção contra este coronavírus (…) Agora, por que tem gente que pega e não está protegido? Eu insisto na Genética! O sistema imune é Genética. Nós, seres humanos, não somos camundongos; isogênicos que respondemos iguais. Nós somos selvagens (…) A gente é bem heterogênico (…) muitos de nós já somos imunes e não sabemos e muitos, por motivos genéticos, vão precisar da vacina”.
O médico reafirmou que não se sabe como medir a imunidade para este vírus. “E a gente, com certeza, está com o olho viciado na nossa ‘caixinha de 60 anos atrás’, onde se coloca o vírus em uma caixinha, daí a gente quer inativar ou atenuar, produzir a vacina e produzir os anticorpos que nós queremos. Não é assim! Esse vírus é diferente!”.
Dr. Condino fez uma comparação com a AIDS, onde o processo pelos métodos tradicionais foi semelhante, e, posteriormente, não se chegou a uma vacina, mas em tratamentos medicamentosos e uso de camisinha, por se tratar de um vírus com características únicas.
O médico ponderou que, assim como na época da criação das vacinas há quase 60 anos, estejamos novamente diante de uma janela do tempo que nos permitirá popularizar a investigação genética. Para Dr. Condino, a medicina pode estar diante de um vírus que desafia os médicos a pensar em terapia gênica, biologia, imunologia e susceptibilidade.
Já o imunologista Dr. Antônio José Pinho Jr. apresentou um compilado de relatos internacionais e experimentos para entender a evolução do vírus ou possíveis características de contágio.
Dr. Pinho exibiu inclusive imagens histológicas da ação do vírus no organismo humano e exibiu em sua apresentação um compilado sobre o que sabemos sobre as vacinas em estudo no momento.
Em seguida, Dr. Francisco Aoki, coordenador regional do estudo com a vacina do Instituto Butantã em parceria com uma empresa chinesa Sinovac, comentou sobre o protocolo de testes que está sendo conduzido pela UNICAMP.
Segundo o médico serão 12 centros distribuídos por várias cidades brasileiras. Serão cerca de 8,8 mil participantes voluntários. Metade tomará placebo e outra metade, a vacina. Uma segunda dose é aplicada em duas semanas para reforço, no sentido de oferecer eficácia maior comparativamente ao grupo que receberá o placebo.
No HC-UNICAMP, serão envolvidos inicialmente 500 participantes, com possibilidade de aumentar este número. Não se espera efeitos colaterais importantes. O acompanhamento será de 12 meses, com avaliação clínica, contato telefônico e visita para compor um relatório das reações e condução de um diário para monitoramento dos casos. As informações serão digitalizadas para um trabalho de estatística que transcorrerá até a compilação dos dados.
Existe uma expectativa de uma primeira análise do trabalho após seis meses de duração do estudo. Para não onerar um único serviço, existe uma eventual possibilidade de parceria com a rede pública e privada para auxiliar no processo de fechamento do grupo de indivíduos voluntários para o estudo que. O período de randomização é de um mês a partir do início do estudo. Haverá auditoria externa do Instituto Butantã e auditores internacionais.
Para o infectologista Dr. Rodrigo Angerami e o Epidemiologista Dr. André Freitas, apesar de não saberem a resposta da vacina diante do vírus, ambos estão otimistas quanto a possibilidade da vacina pelo menos diminuir a gravidade da doença, e assim, o impacto no serviço de saúde, como vacinas para outras doenças já causam no sistema.
A Presidente da SMCC, Dra. Fátima Bastos resumiu o momento vivido pelos profissionais de saúde e médicos. “Estamos aprendendo muito e na área de medicina voltar a estudar alguns temas como imunologia tem sido muito importante. Estou muito grata também porque aqui na Sociedade estamos tão ativos e produzindo tanto conteúdo e reuniões”.