Durante o IV Fórum “Situação Atual Covid-19 em Campinas” nesta quinta-feira (18/06) foi unânime o posicionamento dos médicos e gestores de saúde contra a flexibilização, o aumento de doentes e as perdas de efetivo entre os profissionais de saúde.
A posição contra a flexibilização já havia sido feita na semana passada, com destaque para cobertura da imprensa em Campinas, porque a taxa de ocupação dos leitos já era muito alta.
Agora, os médicos representantes das principais instituições e hospitais da cidade temem pelo impacto nas próximas semanas pela somatória das questões envolvendo a flexibilização, saturação dos leitos e aumento nos casos de profissionais de saúde doentes.
A presidente da SMCC, Dra. Fátima Bastos, foi categórica em afirmar: “Estamos com leitos esgotados, 30% dos profissionais doentes em vários hospitais, isso traz uma queda também de mão de obra para cuidar destas pessoas. Temos que repensar e tomar uma posição mesmo que seja dura neste momento. Nossa função é salvar vidas, nossa função é defender os médicos e defender a nossa população”.
Dra. Fátima Bastos completou o raciocínio dizendo que a população não entendeu que nós ainda estamos em risco. “A flexibilização fez com que as pessoas achassem que acabou tudo, vimos pessoas sem máscara pelas ruas, nos pontos de ônibus, aglomeração para todo lado, fila no shopping para passear… isso precisa ser refletido pelos gestores e nós nos colocamos, mais uma vez, contra essa abertura”. E concluiu: “Estamos preocupados com as equipes. Estamos muito preocupados com profissionais doentes, até perdas de colegas na frente de batalha, não só da classe médica, mas também dos fisioterapeutas, dos enfermeiros, todo mundo que está ajudando nesta pandemia. Acho que este momento é ‘vermelho’ para nós todos. Ele (Prefeito) tem que pensar bem e voltar atrás. Mais uma vez a Sociedade de Medicina (SMCC) se coloca à disposição pra ajudar, inclusive com a opinião pública. Nós não estamos contra os gestores, muito pelo contrário, nós queremos ajudar”.
O Diretor da Unimed Campinas, Dr. Luiz Gonzaga Massari Filho fez a mesma afirmação sobre doentes entre os profissionais de saúde. “Estas semanas serão cruciais. Estamos tendo aumento dos casos entre profissionais de saúde”.
A Secretaria de Saúde, representada no Fórum pelo médico Dr. Fernando Brandão, não apresentou índices sobre o registro de casos entre os médicos e profissionais de saúde. Ele destacou que a cidade vive uma situação muito complexa, pois é sede de região metropolitana e comentou que estamos seguindo o plano de São Paulo e o Estado nos vê (Campinas) como a Diretoria Regional VII que envolve 42 municípios. “Somos ‘laranja’ mas estamos parecendo ‘vermelho’, que seria a situação de maior restrição. Na Secretaria de Saúde, Dr. Carmino tem se debruçado sobre o assunto a gente tem discutido muito com o Departamento de Vigilância Sanitária, para tentar esclarecer qual a nossa real posição a ser colocada para o prefeito”.
A cidade de Valinhos seguiu a orientação dos médicos e nesta semana recuou na flexibilização. A médica representando o Hospital Galileo (CCIH), Dra. Adriana Feltrin comentou: “Realmente a novidade foi o prefeito recuar. A Santa Casa (de Valinhos) já não tinha mais leitos, já estava na sua capacidade máxima, então ele voltou atrás na flexibilização. O hospital Galileo está com 80 a 90% de ocupação”. Dra. Adriana também destacou que a próxima semana será de muita apreensão e lembrou que era o 11º dia de flexibilização em nossa região. “Acho que a gente vai colher frutos desse período que a gente tem vivido. Não adianta um único município retroceder, tem que ser uma região toda, porque os pacientes circulam de cidade a cidade, as vagas estão bastante limitadas e acho que a gente vai ter um cenário ruim a partir deste próximo final de semana, colhendo exatamente esses dias de flexibilização”.
A quarta edição do Fórum da SMCC abordou os temas: Situação dos Leitos, Atualização em Tratamentos e os Aspectos Éticos e Jurídicos relacionados à pandemia de Covid-19.
Leitos Lotados
Comentando a situação dos serviços públicos, Dr. Fernando Brandão confirmou a lotação dos leitos, a corrida para abertura de novos leitos e a preocupação com a administração do atendimento para as próximas semanas.
“A ocupação é total de leitos. Houve avanço na mortalidade nas últimas semanas. Os pacientes de Covid ficam de duas a três semanas na UTI. Daí o problema. O trabalho tem sido anexar novos leitos. Entraram 17 leitos de UTI e 28 leitos secundários. Diante da situação, os leitos são rapidamente distribuídos. Na administração a situação é: 140 casos por dia e 70 casos de Covid, 20 deles precisam de UTI. Por isso situação é difícil, atingindo taxa quase 100% de ocupação. Temos expectativa de novos leitos para os próximos dias.”
Uma das últimas medidas da Prefeitura de Campinas foi transformar a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) São Lourenço em atendimento exclusivo Covid. Para esta semana a notícia dada pelo médico foi de que a Prefeitura está abrindo 10 novos leitos de UTI adultos na Santa Casa e outros quatro na Casa de Saúde. Ainda serão mais 30 leitos secundários dentro do Hospital de Campanha. Com isso um total de 405 leitos (SUS) somente para atender Covid em Campinas.
Dr. Atila Venditte, gerente médico do Hospital Madre Theodora, citou 90 a 100% de ocupação do hospital, chamando a atenção para o aumento do número nas últimas duas semanas. “Nós praticamente quadruplicamos o volume de atendimentos de pacientes (com quadros) respiratórios.” E destacou: “Uma mudança que a gente viu importante nas últimas semanas foi o aumento de casos de crianças, coisa que a gente não estava vendo desde o início da pandemia. Muito quadro abdominal, gastrointestinal, poucos quadros respiratórios e pouquíssimos casos graves.”
O alerta também veio do Coordenador do Departamento de Infectologia da SMCC, Dr. Rodrigo Angerami: “A onda do Interior chegou! Existem freios e contrapesos que devem ser utilizados frente alguns indicadores. A gente tem que ter a serenidade e a sabedoria de usar os freios e retroceder porque senão nós vamos ter cadeias de transmissão que vão se avolumar e o sistema não vai responder. Nosso sistema é desafiado pelos casos da região toda. Qualquer plano de enfrentamento e de adequação da assistência não tem que ser discutido em âmbito de município, mas tem que ser numa perspectiva regional. Temos observado transmissão entre profissionais da saúde que vem se mantendo. Todas as semanas um número não desprezível de profissionais em todas as categorias. E isso é preocupante! Se previamente a gente tinha um sistema ainda com capacidade de resposta adequada, agora, frente ao desafio que é um número de casos aumentado temos que ter força de RH para responder”, foi taxativo o infectologista.
Dr. Angerami confirmou que teremos semanas desafiadoras pela frente. “A Rede terá que se adequar. Temos que interromper cadeias de infecção, senão depois serão tentativas inglórias”.
Tratamentos
Mais uma vez o tema foi discutido na expectativa de uma atualização sobre protocolos e esquemas terapêuticos que preveniriam ou tratariam a doença nas suas fases iniciais.
Em Campinas, alguns hospitais estão seguindo protocolos de pesquisa, mas sem resultados definidos ainda. Alguns centros, relataram uso de Nitazoxamida, Ivermectina e Cloroquina / Hidroxicloroquina, mas ainda de forma empírica e sem resultados concretos. Por outro lado, os protocolos de tratamento de pacientes graves estão mais definidos, com uso de protocolos de anticoagulação, antibioticoterapia e demais cuidados intensivos.
Dr. Carlos Mattos da PUCC citou que, de maneira geral, não houve mudança alguma. “A Covid-19 é uma doença que segue os protocolos de várias doenças parecidas que dão alterações sistêmicas”.
Um estudo envolvendo a Dexametasona, publicado ao longo da semana, também foi debatido e foi ressaltado que apresentou alguma evidência para uso em pacientes com necessidade de oxigenoterapia ou ventilação mecânica, o que não difere dos protocolos tradicionais de manejo de insuficiência respiratória grave, admitindo até um possível efeito similar com o uso de outros glicocorticoides, conforme destacado pelo intensivista Dr. Luiz Gonzaga e infectologista Luis Gustavo Cardoso, do HC UNICAMP / Centro Médico de Campinas. Entretanto a droga parece não ter efeito nas formas leves.
O Coordenador do Departamento Infectologia da SMCC, Dr. Rodrigo Angerami, disse que é louvável a qualidade dos protocolos de pesquisa em Campinas, destacando a condução de protocolos na rede privada que demonstra a qualidade dos corpos técnicos, uma vez que protocolos dentro das academias já é corriqueiro.
“As alternativas (de tratamento) devem ser testadas, drogas devem ser prospectadas, mas a luz do que temos hoje, em termos de protocolo e diretriz, eu não incluiria nem para pacientes leves, e mesmo para os pacientes graves nenhuma das drogas como protocolo de diretriz clínica dentro daquilo que a gente conhece como boas práticas e níveis de evidência. Definitivamente, a gente não tem a ‘bala de prata’. Não tem algo que nos dê tranquilidade pra dizer que estamos prontos para enfrentar a pandemia e, por mais que temos a ampliação de leitos; aumentar leito de UTI implica aumentar leito com qualidade”, concluiu o infectologista.
A presidente da SMCC ponderou que cada vez mais o Covid chega próximo. “É o bom senso mesmo que precisa ser usado. Todo mundo gostaria de ter um protocolo que desse certo, uma receita de bolo. Mas, nós não temos. Estamos aqui no Fórum com os melhores especialistas reunidos, de hospitais públicos e privados, dizendo a mesma coisa”.
Medicamentos e EPI’s com preços abusivos
O vice-presidente da SMCC e presidente da Associação dos Day Hospital de Campinas, Dr. José Roberto Amade, chamou a atenção para o crescente problema de preços abusivos de medicamentos e equipamentos de proteção individual (EPI). Para Dr. Amade, é preciso agora a intervenção do Ministério Público e, se possível até via GAECO (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) para deter superfaturamento dos valores dos equipamentos de proteção e insumos para a área da saúde.
“Os custos dos equipamentos e insumos estão muito altos. Estão até 1.500% mais caros. O que está impactando muito! A SMCC já vem ressaltando desde os primeiros Fóruns que os abusos infelizmente existem. Acho que o Ministério Público tem que entrar nisso para nos ajudar”.
Para Dr. Murillo Almeida (Provedor do Hospital Santa Casa de Campinas / Irmãos Penteado) é preciso uma atitude radical no momento. “Em termos de sociedade temos que tomar uma posição. Estamos gastando absurdamente com valores exorbitantes com EPI’s. Precisamos mobilizar a sociedade como um todo, a imprensa e poder público. O problema é a médio e longo prazo”.
A SMCC já anunciou que planeja atuar e já ao final deste Fórum, contatos iniciais foram feitos para acionar o Ministério Público e reunir documentação dos hospitais e médicos para apresentação de denúncia. O assunto também deve ser abordado no V Fórum, na próxima quinta-feira.
Ampliar a testagem é a saída?
A questão da testagem voltou a ser citada. Para a maior parte dos médicos participantes do Fórum o controle da pandemia pode estar na testagem ampliada aos profissionais de saúde e população. Para o epidemiologista Dr. André Ribas Freitas, da Faculdade São Leopoldo Mandic, a questão do contágio regional impõe esta condição.
“O que a gente ainda não tem conseguido fazer ainda em Campinas é o aspecto da testagem. Uma questão é a demora dos resultados e também não conseguir estender os testes aos pacientes que não são profissionais de saúde. O nível de adesão de um paciente que tem um teste positivo (de Covid) é muito diferente de um paciente que tem só uma síndrome gripal. Se a gente testar e tiver um resultado em 24 horas, e recomendar o isolamento por 14 dias, a gente consegue uma efetividade, um rastreamento da transmissão que é muito mais efetivo. Para gente conseguir voltar ao ‘novo normal’ esta questão deveria ser bem cuidada. Ampliar o (teste) PCR seria uma diretriz importante para alcançar controle”, afirmou.
Um inquérito populacional com testagem de uma amostra da população de Campinas está em andamento.
Ainda sobre o tema de controle da pandemia, para Dr. Ribas seria urgente neste momento e valeria a pena, por exemplo, investir em medidas de desinfecção e prevenção no transporte público.
Questões Éticas e Jurídicas
O Departamento Jurídico e de Defesa Profissional da SMCC, através dos advogados Dra. Márcia Pardal Cortês e Dr. Lucas Selingardi reforçaram questões importantes sobre preenchimento de documentos, comunicação de notícias a parentes e até condições de trabalho durante pandemia.
Também houve a participação do Conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP), Dr. Angelo Vattimo, com orientações sobre questões sensíveis que atingem o profissional médico.
Sobre prescrição médica a advogada Dra. Márcia recomendou: “O médico não está obrigado a prescrever o que é orientado por protocolos de hospitais. Ele tem que ter certeza de que pra ele tem evidências científicas, existem os protocolos mas o médico tem que estar convencido. Ele tem a proteção do CRM para isso”.
O advogado do Departamento da SMCC, Dr. Lucas Selingardi disse que o momento é excepcional. “Realmente estamos em um momento extraordinário em todos os sentidos; de legislação, recomendação. Mas, sempre está acima a relação médico paciente. E o fortalecimento deste fluxo dos gestores e hospitais ajuda”.
Serviço
Um Informativo deverá ser produzido pela SMCC e publicado em breve com todas as orientações pertinentes ao exercício da prática médica com segurança.O Departamento Jurídico e de Defesa Profissional da SMCC (DEJUR) estará a disposição para orientação a classe médica e atendimento de médicos associados sobre as questões referentes a pandemia de Covid-19.
O contato pode ser via:
E-mail do DEJUR SMCC [email protected]
WhatsApp (19) 99230-5539
Dra. Marcia Pardal Cortes
E-mail: [email protected]
WhatsApp (19) 99648-2838
Dr. Lucas Selingard
E-mail: [email protected]
WhatsApp (19) 99143-5382
Assista as Edições Anteriores:
1º Fórum SMCC (28/05) – “Análises e Previsões”
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2º Fórum SMCC (04/06) – “Perguntas e Respostas” – (Leitos / Tratamentos / EPIs / Testagem)
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3º Fórum SMCC (11/06) – “Perguntas e Respostas”- (Leitos / Insumos / Procedimentos Eletivos / Reabertura)
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4º Fórum SMCC (18/06) – “Leitos / Tratamentos / Aspectos Éticos e Jurídicos)
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