Durante o 9º Fórum “Situação Atual Covid-19 em Campinas” da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC) nesta quinta-feira (23 de julho), o secretário de saúde de Campinas, Dr. Carmino de Sousa, já havia afirmado que a evolução na taxa de ocupação e de novos casos na última semana trariam a expectativa da cidade pode evoluir para a fase laranja.
“Acho que estamos vivendo um momento de mudança. Está ultrapassado o momento mais difícil. Esta é a primeira semana que temos leitos disponíveis nos mapas. Mesmo com o nível de ocupação em 80%”, disse o secretário que afirmou também estar planejando desmobilizar parte do hospital de campanha em 14/08. Dr. Carmino informou que isso não significará menos leitos, pois o Complexo Ouro Verde terá mais 20 deles disponibilizados e outros 17 na Santa Casa de Campinas para os próximos dias.
“É uma ótima oportunidade para mim (participar do Fórum SMCC) e ouvir o panorama de cada hospital. Cartorialmente, eu tenho a situação, e vejo pelo menos duas vezes ao dia, mas é diferente ouvir por aqui quem está na ponta”, declarou o Secretário de Saúde de Campinas ao elogiar a iniciativa da SMCC em manter os Fóruns semanais diante da pandemia, reunindo os principais representantes de faculdades de medicina, operadoras de saúde e dos principais serviços de Saúde públicos e privados de Campinas.
O conteúdo completo do 9º Fórum SMCC pode ser assistido pelos Canais da SMCC:
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No encerramento, a presidente da SMCC, Dra. Fátima Bastos, comemorou o depoimento não somente do secretário como dos especialistas assegurando este novo momento. “Passamos as últimas semanas pedindo para o prefeito voltar atrás na flexibilização. Foram dias tensos. Acho que a quarentena serviu para nos guiar e agora vamos discutir como retomar de forma racional”.
Situação dos Hospitais
Os representantes de vários hospitais da cidade presentes ao fórum relataram a situação de cada unidade, detalhando a ocupação de leitos de UTI, enfermaria, demanda no pronto-socorro e número de profissionais de saúde afastados e infectados.
A sensação geral foi de haver uma redução lenta, mas sustentada, na demanda de casos mais graves, apesar de ainda haver muitos leitos de UTI ocupados. Esta percepção também foi confirmada pelo Secretário de Saúde que afirmou que todos os números relacionados a Covid-19 têm caído lentamente.
Foi relatado ainda um expressivo aumento no fluxo de pacientes em prontos-socorros com sintomas leves em busca, principalmente, de testagem. Devido a uma liminar recente, os planos de saúde foram desobrigados a custear todos os exames para Covid-19.
Dr. Carmino comentou: “A sociedade está cansada, tem sido muito sacrifício! O plano São Paulo é muito bom porque nos guia, mas talvez não precisasse que todo o Estado fosse igual desde o início da pandemia. O grande desastre (no início da pandemia) não era no interior e sim na capital. Nós também impusemos uma quarentena muito precoce, o que foi bom por que nos preparou para o pior (…) Estamos no platô agora com um viés de queda”.
O Coordenador do Departamento de Infectologia da SMCC, Dr. Rodrigo Angerami, comentou sobre a situação do número de óbitos: “Quando a gente olha a curva de óbitos por semana, desde a semana 28, ainda que os óbitos estejam ocorrendo, o que é lamentável, o número de óbitos vem caindo há 3 semanas. E o que chama a atenção é que a data de início de sintomas destes óbitos vem se remetendo há 2 a 3 semanas. São óbitos que não representam, epidemiologicamente, as 3 últimas semanas”.
Dr. André Ribas Freitas, epidemiologista da Faculdade São Leopoldo Mandic concordou sobre a nova fase que entramos na cidade. “Finalmente estamos em uma situação mais tranquila. A tendência de queda é lenta, mas é uma tendência de queda”, confirmou.
A sensação de todo o grupo foi de que a união e a solidariedade entre todos os serviços de saúde na cidade, públicos e privados tem feito a diferença em nossa cidade e que este momento de passar para a fase laranja do Plano São Paulo é diferente do laranja vivido anteriormente, que era artificial.
Quebra das Cadeias de Transmissão
A quebra das cadeias de transmissão do SARS-Cov-2 vem sendo apontada como um dos principais pontos na estratégia de enfrentamento. Ainda mais quando medidas de flexibilização se aproximam e o risco de novos surtos pode aumentar.
Durante o Fórum na noite de ontem os especialistas citaram ações já concretas e medidas que poderão ser adotadas por hospitais, clínicas e unidades de saúde.
O Coordenador do Departamento de Infectologia da SMCC, Dr. Rodrigo Angerami citou a experiência de testagem em dois mil colaboradores assintomáticos do HC da UNICAMP, uma estratégia adotada por aquele hospital. “De fato, (esta estratégia) teve a implicação de poder quebrar a cadeia de transmissão no serviço de saúde. Essa estratégia definitivamente culminou com a redução da transmissão intra-hospitalar, menor número de profissionais infectados”.
Dr. André Ribas argumentou que a questão do rastreamento é muito importante e novamente citou a falta de uma coordenação nacional para conter a cadeia de transmissão. “O Ministério (da Saúde) não toma uma postura. O manual até agora é o mesmo do início da pandemia. Nossa vigilância (Campinas) é reconhecida nacionalmente e poderia ter um papel de fazer um pouco mais do que o manual do Ministério prevê. Não é rastrear domicílio, teremos contato no trabalho. As empresas maiores terão rastreamento obrigadas por lei, mas as menores não. Tem que ter disponibilidade de testes e agilizar entrega de testes”, concluiu Dr. André Ribas Freitas que já integrou a vigilância em Campinas.
Também houve a indicação da continuidade de testagens nos profissionais de saúde para isolar casos e também promover a quebra da cadeia de transmissão.
O trabalho da DEVISA (Departamento de Vigilância em Saúde), da Vigilância Epidemiológica de Campinas e, principalmente, o suporte da rede básica de atenção à Saúde do município foi exaltado e tido como fundamental nestas próximas semanas para rastrear, identificar e isolar novos casos e seus contactantes.
O presidente da Associação dos Day Hospitals de Campinas e vice-presidente da SMCC, Dr. José Roberto Franchi Amade comentou sobre a situação dos bairros mais afastados da região central. “Na periferia é impossível em uma casa pequena com um número grande de pessoas falar em isolamento. Eles têm que sair para trabalhar, pegam transporte público. Temos que continuar contendo as aglomerações. E uma das coisas mais importantes é reduzir o medo da população. Tem pacientes crônicos que precisam ser monitorados e não estão indo ao médico por medo”.
O secretário de saúde compartilhou do mesmo raciocínio e concluiu dizendo que é preciso reforçar a comunicação com a população. Para ele o bombardeio de notícias prejudica.
“Temos que ser diretos na comunicação. Se é para usar máscara, então vamos dizer para usar máscara sempre. Se é para lavar as mãos, diga ‘lave as mãos toda a hora’… e não ficar especificando quando e como. Temos que simplificar. Uma informação única”, lembrou Dr. Carmino.
O grupo concordou e a SMCC, através do seu Departamento de Infectologia, juntamente com a Secretaria de Saúde e as CCIH (Comissões de Controle de Infecção Hospitalar) dos hospitais, estudarão a criação de um protocolo de segurança para as unidades de saúde, norteando a segurança nos atendimentos a partir da flexibilização. O documento deverá trazer diretrizes mínimas e cada unidade poderá adapta-lo para suas diferentes realidades e particularidades.
O consenso do grupo foi manter a atenção fortemente nos seguintes pontos principais: 1) identificação e isolamento de pacientes e contactantes, 2) a questão do transporte e 3) combater as aglomerações.
Outro ponto importante discutido, foi a questão do retorno ao trabalho de pessoas que tivera a Covid-19. Algumas empresas na região têm exigido um segundo teste antes de readmitir um funcionário afastado. Na visão dos especialistas, esta atitude é inadequada, uma vez que nenhum dos testes disponíveis hoje, incluindo o Rt-PCR e sorologias, garantem o “passaporte de imunidade” ou o fim da transmissão e ainda esta exigência de repetidos testes desnecessários onera demais o sistema de saúde, tanto público quanto suplementar. Não há indicação de novo PCR ou sorologias.
O consenso durante a discussão foi de assumir que pacientes após 14 dias do diagnóstico (já com uma margem de garantia) desde que estejam assintomáticos por pelo menos 72 horas (ambas as situações juntas) não precisam de novo teste para retornar ao trabalho. O grupo também sentiu a necessidade de produzir uma recomendação sobre o assunto e a SMCC deve começar a trabalhar nisso imediatamente, buscando a validação destas recomendações junto as demais entidades antes de sua publicação.